Acasos

Curiosidades, Meus Escritos, Pensamentos
E então… Quais as possibilidades de você, sendo uma autora Indie, que não faz parte de panelinha literária alguma, que só obteve ajuda de suas VERDADEIRAS amigas para divulgar suas modestas obras, ver seu livro em pleno final de tarde de uma sexta-feira nas mãos de uma simpática jovem? Você, caro receptor dessa mensagem, pensaria que nulas, certo? Principalmente estando em uma cidade com mais de 2,6 milhões de habitantes… Mas hoje eu digo> Reais! Afinal, possibilidades, são nada mais do que simples possibilidades. O fato procedeu da seguinte maneira…

“Entrei no ônibus com o propósito de seguir para minha humilde residência, quando meus olhos percorreram o local e, de imediato, bati os olhos nessa jovem concentrada numa leitura. Eu, como uma pessoa ‘nada’ curiosa e leitora ávida, achando uma raridade encontrar outra leitora num buzu, é óbvio que procurei sentar do lado dela. Quem sabe eu poderia reconhecer o livro e bater um papo sobre o mesmo, afinal, que leitor não curte discutir sobre um livro que leu? 
Aproximei-me com este objetivo em mente e eis que de repente minha respiração ficou suspensa. Inclinei a cabeça um pouco… Ok, nada de discretamente, e pensei… ‘Não, não pode ser… é ele? O meu bebê?’ Sim, era um deles. Um autor sempre reconhece um feito seu. 
– Tá gostando da leitura? – perguntei enfática demais, tão enfática que ela me olhou surpresa, ajeitou seus óculos e endireitou as costas na cadeira. Pensei até que ia retrucar com alguma palavra hostil… 
– Sim, tô gostando. – me respondeu receosa e então resolvi remediar minha abordagem exagerada. 
– Perdão. É que gosto muito de ler e fico eufórica quando vejo pessoas ‘normais’ como eu. 
Enfim, ela sorriu e pareceu me compreender. Soltou um suspiro e fechou o livro, deixando seu dedo indicador marcar a página, a qual estava lendo antes de eu interrompê-la. 
– Sei bem como é isso. Sofro quando leio um livro e não tenho com quem comentar. 
– Então comente esse comigo. Eu já li ele! (Ok, não demonstrei nem um pouco o quanto estava interessada em saber a REAL opinião dela sobre ele ¬¬). 
Sorrindo, ela balançou a cabeça em afirmação, passou a mão esquerda sobre a capa do livro e soltou um suspiro APAIXONADO. Sim, não deixei escapar isso. Foi um suspiro apaixonado! 
– Sabe, esse Taylor está me deixando cada vez mais derretida e com receio de que quando eu encontrar um pretendente a namorado, acabe o descartando ao comparar o mesmo a esse deus literário. Sério! Por que, Deus do céu, não existe realmente um homem desses? 
– Foi o que achei quando li. E tudo que ele faz pela Sam, então? 
– Verdade! Como eu tenho inveja dessa garota! 
Eu ri. Ri com vontade. Até quando eu escrevi também tive uma pontada de inveja da Sam… 
– Mas, por vezes, acho que Sam merece tudo que Taylor faz por ela. Acho que ela sofreu demais, e ele pode ser a redenção, o alívio, a única salvação e fuga para ela de seu passado atormentado. 
Uau, pensei, que demais! Ela compreendeu exatamente o ponto, tão exatamente que me perguntei por um momento se ela não havia repetido algum trecho dos devaneios de Samanta no livro. 
– E sabe o quê mais? Por vezes sinto raiva dela. 
– Ah, por quê? 
– Não sei ao certo… – ela olhou rapidamente para a capa do livro e depois para mim. – Acho que é por ela resistir demais a ele. Samanta é tão cabeça dura, às vezes. Sua teimosia em aceitar seus sentimentos por ele me tira do sério. 
Fiquei em silêncio por um momento, analisando suas palavras, pois são o que muitas leitoras me dizem sobre minha heroína. E, como havia conversado sobre isso na noite anterior com minha amiga Marcela, resolvi repetir algumas palavras desta. 
– Verdade, Samanta é muito teimosa, porém é também persistente, tem fibra, garra, ela é uma lutadora, uma jovem geniosa, e é isso que a diferencia de diversas outras mocinhas que li. Talvez essas atitudes dela incomode a nós, leitoras (sim, pq até o momento não tive coragem de assumir minha autoria), porque nos identificamos com os erros dela, sabemos que aquilo faz mal, fará sofrer, e a criticamos duramente só para tentar convencer a nós mesmas que faríamos diferente caso a situação fosse conosco. 
– Humm, bem pensado. Não havia prestado atenção a esse ponto. 
– Muitas pessoas não prestam, eu mesma não prestei de inicio. Mas uma amiga me alertou sobre isso e vi que ela tinha razão. Não reconheci de início, porque é difícil perceber os erros em nós mesmos, é mais fácil aceitar, visualizar e apontá-los em outras pessoas. 
– Acho que você tem razão. Mas quer saber de uma? Acredito que o Taylor me encanta justamente por isso. Ele aceita os defeitos de Sam e a ama de forma incondicional. 
– E é tão raro isso hoje em dia. – afirmei com um choramingo, o que a fez rir. Então ela abriu o final do livro e olhou para a aba, na parte onde havia a descrição sobre a autora. Fiquei tensa. Sim, pegaria muito mal ter conversando e a feito falar tão profundamente sobre o livro e no final dizer que fui eu quem o havia escrito, que fiquei sem graça de assumir. 
– Como soube desse livro? – a questionei. 
– Vi ele no Skoob. Dei uma lida nas resenhas de lá e me interessei. Depois procurei no google e vi que estava a venda num site aí… Autores e alguma coisa, eu acho. 
– Clube de autores? 
– Isso aí! E fiquei mais curiosa ao ver que a pessoa que escreveu é um ano mais velha do que eu e minha conterrânea, quer dizer, mora no mesmo estado que eu, sim, porque não sou daqui, sabe? 
– Hum, sei… – a olhei curiosa. Ela ergueu a vista para mim e estreitou levemente os olhos. 
– Sabe, você não me é estranha. 
– Acho que é porque estamos no mesmo bairro. Deve ter passado por mim em algum momento. – sem jeito, olhei para frente e percebi que havia passado do meu ponto. É, Susane, havia chegado o momento de sair pela culatra. Sabia que se eu não assumisse, ela não me reconheceria. No site do skoob e no clube de autores, estava com o cabelo pranchado e um penteado diferente. 
– É, pode ser. – ela respondeu ao final. Então, sorrindo, me despedi dela com um até logo, e desci do ônibus com a consciência um pouco pesada, e pedindo em pensamento para que, se existisse uma nova chance, eu pudesse me reencontrar com ela, pedir desculpas por não ter me identificado, e até estender um convite à sorveteria para um bate papo maior.” 
Então, cara leitora desconhecida. Se por alguma obra do destino conseguir ler essa mensagem, caso se reconheça nessa situação, não hesite em entrar em contato comigo. Será um prazer revê-la!